Um cesto de lixo por ano
“Vender lixo” não é uma nova atividade económica, e fazê-lo pela internet também não. Porém, ser um agente que facilita a vida aos transformadores desta matéria-prima, negociando o preço dos resíduos e o seu transporte, já será novidade. Pelo menos por cá.
Usando a plataforma AB2Blue, a Maynis Negócios e Investimentos Sustentáveis propõe-se valorizar e promover o reaproveitamento dos resíduos gerados pela indústria brasileira, tendo também uma atitude pró-ativa e estimuladora das utilizações destes materiais.
A Portugal talvez assentasse bem esta ideia, que articula sustentabilidade, voluntariado, transporte de resíduos e gestão autárquica num mesmo sítio da web. Não haverá quem experimente?
Para o êxito desta iniciativa não concorre (ou talvez concorra) a atitude mitigadora de resíduos duma família norte-americana, a família Johnson. As palavras-chave das suas ações portas a dentro são recusar, reduzir, reutilizar, reciclar e compostar os seus resíduos. Eles dizem produzir apenas “um cesto de lixo por ano”, ao mesmo tempo que conseguem reduzir em 40% as despesas anuais da casa.
E, aposto, usam sacos reutilizáveis para ir às compras, em vez de sacos plásticos de supermercado.
Fazer chover no deserto
Mikhail Gorbachev voltou a insistir numa “perestroika”, agora para as políticas ambientais, preocupação que, de resto, há muito vem manifestando na ONG Internacional Green Cross de que foi fundador há 20 anos.
Diz ele que os benefícios económicos de curto prazo estão a colocar-se à frente dos interesses da humanidade e do ambiente. E que tem sido enorme o fracasso da comunidade internacional frente às ameaças da economia selvagem e desumana em que se vive. O quanto nós sentimos isto na pele!
A este propósito, aqui fica a minha indignação, como a da Quercus, pelo facto do Parlamento Europeu ter reprovado uma proposta da Comissão que era vital para corrigir o mercado europeu do carbono, e melhor regular a política climática da UEE. Este jogo de interesses!...
E isto acontece ao mesmo tempo que a Mauritânia (e muitos mais países e regiões de África, e não só – também temos por cá!) se vê a braços com um estado de seca severa e com a consequente desertificação que parece irremediável. A isto não é alheio, e é agravante, o elevado consumo como combustível que 70% dos mauritanos faz do escasso lenho que se produz nas suas florestas, nativas e artificiais.
A este problema acresce o efeito negativo do pastoreio e dos fogos, atrás do que correm, a tentar minimizar prejuízos, os 48 mil hectares de florestas protegidas, os 68 mil de reflorestações e os mais de 1100 km de faixas e cinturas verdes instaladas de norte a sul e à volta das cidades e povoados. E também acrescem cada vez menos chuva e as areias que continuam a avançar sobre tudo, e as árvores que também gritam com sede!
Foi o detetar deste “grito” o resultado científico que anunciou a equipa de Ponomarenko, da Universidade de Grenoble. Afirmam estes cientistas que ainda não conseguem distinguir esses ruídos - os devidos à cavitação (interrupção das colunas de água nos troncos das árvores e entrada de ar na rede condutora), dos demais que as árvores fazem (chiadeiras, fraturas e colapsos das células do lenho). Estão a trabalhar nesse sentido. E quão atraente deverá ser.
Será que o método Ponomarenko poderá vir a possibilitar o aviso antecipado do aumento das cavitações e a permitir providenciar um eventual sistema de rega de emergência? E um sistema destes poderá vir a ter utilidade prática nas Mauritânias deste mundo?
Só se alguém descobrir uma forma barata de fazer chover no deserto!
Mário Pinheiro